Supersubfaturado

Thursday, September 29, 2005

De novo a Bizz

Este é a impressão final das páginas que voltaram às bancas nesta semana. O resultado é ótimo: é a melhor revista de música já editada por aqui. Falo isso comparando com a Bizz anterior e com as tentativas posteriores de revistas musicais neste país.
O melhor: Bizz já é marca consolidada no país, o que dispensa adaptações como as que ocorrem na Argentina. Essa questão faz a revista retomar seções antigas, como Cabra-Cega, Ouça Essa, Discoteca Básica, etc. O inventário de lançamentos é amplo e vai além dos CDs, como era de se esperar _lá estão livros, equipamentos e DVDs, meio parecido com o que já acontece na Vip.
Daí vem as adaptações estrangeiras, e nisso a revista também vai bem ao copiar sem alarde Q e Mojo _eis aí as referências mais óbvias. Um ano radiografado, um guia de compras para bandas clássicas. E o grafismo que continua excelente, como era praxe nas edições antigas.
Chega a hora de falar dos textos e reportagens. E eles estão sensacionais. Começa pelo Pedro Só e Netinho _meu, é uma obra-prima a resenha do show em Carapicuíba_, passa pela excelente entrevista de Ricardo Alexandre com Marcelo Yuka e termina com o primoroso ensaio de Bia Abramo sobre o novo disco do Los Hermanos.
Não resta dúvidas de que é o lançamento editorial mais bem-vindo deste ano. Que bom que ele chega às bancas amadurecido e com jeito de que continuará por lá pelos próximos anos. A nova Bizz é a revista musical com o sotaque mais brasileiro possível, e compensa o atraso com correções de rumo que a deixa melhor do que no passado. Longa vida à Bizz.

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Querem acabar comigo, Roberto

Pelo menos você teve alguém com quem brigar
Karine Alexandrino
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Quarta à noite, Milo Garage, SP. Mulheres e homens, mas não há mulher e homem, homem e homem e mulher e mulher. Lá todos posam de roupa: as roupas são seus corpos e seus estilos. Sem elas, talvez não existissem. E talvez seja essa a resposta: são pessoas que esnobam seus corpos em razão da imagem. A diferença delas com itens de decoração e plantas ornamentais é quase nulo. Mas há uma diferença, sim: as plantas respiram.
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No palco, Karine Alexandrino. Sobre uma base, ela canta, geme, sussurra. As canções são de amor ou não, de desilusões ou não, mas são engraçadas. Acho graça porque rio das desgraças _e ela as enumera ali na minha frente. Chama alguém para dançar suas músicas, alguém sem ritmo, que deita no chão e se esfrega no rapaz do meu lado. "Pelo menos você teve alguém com quem brigar", dispara numa das canções Karine. Outras seguem nesse vaivém. Enfim, era o show. Era aquela noite. Quem se importa com aquelas plantas vestidas de gente no meio da pista?
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E o Corinthians ensina que há esperança, ou não há esperança. De qualquer forma, a lição é válida. O empate aos 46 do segundo tempo não é sinal de que há esperança, é sinal de que há a razão de lutar. Até o segundo final, na casa do adversário. Enfim, sou salvo de novo pelo meu time _mas desta vez o prazer foi maior.
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As mulheres mudam, as mulheres vão. O Corinthians é o mesmo.

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Tuesday, September 27, 2005

Na mídia

Tem horas que dá gosto olhar os jornais e as revistas. Esta semana é uma delas: coisas boas e notícias bacanas, mas nem sempre boas, chegando às bancas. Deu vontade de comentá-las:
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Lobão na Imprensa
Sempre achei essa revista um atraso _para o estudante é ruim porque tornou-se fria e baba-ovo; para o jornalista, é fria e baba-ovo, então não há razão de lê-la. Mas a entrevista com o Lobão, o músico do ponta de vista jornalístico, foi ótima sacada. Estão lá suas opiniões sem querer forçar polêmica. Ele é autêntico, e tudo o que ele diz lá é autêntico pra cacete!
Sobre Chico Buarque, diz que é parnasiano e depressivo, lembra a ditadura e que ninguém mais precisa dele hoje em dia. Do filme Cazuza, acha uma bosta e diz que não fala dele, embora tenha sido um dos amigos do cantor _ "mas ainda bem, o Frejat apareceu e se fodeu". Reclama do governo Lula, e com razão, e sem resvalar no óbvio do "estou decepcionado" _decepcionado ele já estava antes, bom que se diga. Chama o PT de velho, como a velha MPB. E diz que o funk carioca é o que de novo há. Vai Lacraia. Vai Lobão. A gente precisa desse cara.
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Lobão na banca
A revista Outra Coisa continua ótima, embora mal-editada. Mas a deste mês tem textos melhores e um CD bem bacana, a da agência de DJs Smartbiz, mixado pelo Camilo Rocha. E tem texto sobre o punk sem resvalar em malices pré-históricas. Boa pedida.
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Jânio e o PT
Jânio de Freitas diz que o que todo mundo que analisa o PT e acompanhou sua história pensa mas não diz: que os rebeldes de ocasião estão deixando o partido talvez pensando em aprovação da mídia por conta das denúncias. Se queriam mesmo participar da "refundação do partido", por que não aguentaram até o final do processo de escolha do novo presidente? Notem: Berzoini não vai sozinho para o segundo turno; contra ele, há o esquerdista Pont, que é uma alternativa bem melhor que o Pomar, recém-aliado à turma paulista de Marta. Que tipo de gente é essa que descarta a opção de escolher uma alternativa a essa crise braba deste ano? Eles são parte de uma turma que sempre jogou fora a opção pelo jogo democrático _e nisso estavam embutidas uma série de aberrações históricas como o não ao colégio eleitoral em 1985, não assinar a Constituição em 1988 e dizer sim ao presidencialismo em 1993. Sem moralismo de ocasião, essa turma só fez mal ao partido. Que vá embora, então.
PS: Alguém aqui conhece Plínio de Arruda Sampaio? Ex-assessor de Carvalho Pinto, ex-democrata cristão, da ala conservadora na primeira formação do PT, mais ligado ao próprio currículo do que às lutas do operariado nos anos 80, de ousadia medíocre na Constituinte... Ele é o líder da debandada agora. O que ele faz agora é semelhante ao que já havia feito em 1988, quando perdeu as prévias para a Prefeitura de São Paulo para Luiza Erundina e ameaçou deixar o partido. Plínio, você já tem mais de 70 anos. Não é hora de parar de agir como criança mimada?
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História
Reportagem interessante sobre a greve dos mineiros no Reino Unido de Thatcher. O assunto interessa, sim. Mas interessa mais ainda aos ligados na música britânica. A greve ia ao encontro de tendências de pró-operárias do rock da época _é uma pena que a revalorização oitentista tem esbarrado apenas nas bobagens e nas americanices We Are The World por aqui, Brasil. Porque dá para lembrar de bandas que usavam essa era anticonservadora, de mineiros em greve, para fazer rock bom. E não só na greve, nas lutas antiracistas no norte, nas riots de Leeds, no discuso mais humanista quase trotskista possível. O lado bom dos anos 80 era isso. Era Gang of Four, era Dexy Midnight Runners, era Madness, era Clash, era BAD. Era isso e mais um pouco. Eram eles e os mineiros. E ainda dá para sentir o gosto na garganta.
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Bizz
A nova diagramação, a disposição das páginas, as seções das revistas gringas adaptadas ao nosso gosto. O samba, o rock, a música brasileira, a música popular mesmo... Meu, eu quero isso: quero ler sobre o Franz Ferdinand e o Arcade Fire ao lado da crítica do show do Netinho em Carapicuíba. Isso é rock.
Bem-vinda de volta, Bizz.

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Thursday, September 01, 2005

O cartaz-metáfora

O cartaz no muro em frente à loja de vasos _por conseqüência, do outro lado da rua_ avisou por uma semana que "a grama era sempre mais verde do outro lado". O lambe-lambe ficou lá alguns dias, enquanto saía do forno o CD que emprestava a expressão (era o single de Side, do Travis).
Há essa fixação pelo que não se conhece, pelo que aparenta ser melhor, sem nenhuma certeza. Para mim, àquela época, a grama do Brasil era mais verde que a da Inglaterra. Sentidos combinam de procurar o inédito e/ou saudoso. Mas no fundo eles são iguais.
A imaginação fez com que eu transformasse o Brasil num lugar perfeito para se viver _melhor que o gelo, o vento frio e a garoa de Londres. Contava os dias para o avião partir de Heathrow com destino à paisagem confusa de Cumbica. Meu sonho era sobrevoar o estádio do Guapira antes de cair na pista de pouso e ver minha família, menos minha mãe _de cama, em casa.
Daí se desfez a miragem. Aqui era um lugar tão bom para se viver quanto era antes, mas a experiência forçou novas impressões. A grama mais verde tornou-se cinza a cada dia. Não vi os galhos caírem porque já era primavera _e eu escapara de um outono nebuloso no continente europeu. Mas o verão teria ainda mais nuvens, era só esperar que ele chegasse dali a alguns dias.
Minhas certezas, como as suas, são confusas. É difícil tomar delas algumas conclusões. Sei que tirá-las é tarefa que confunde mais do que explica. Há a excitação por estar em outra nave, outro corpo, outro país, outro emprego, outra namorada... Mas no fim nossos gostos são ajustáveis.
Sim, porque é mais difícil perder do que trocar. É um perde-ganha como aqueles do "Domingo no Parque" _quando a criança, com um fone que impedia a audição, respondia "sim" ou "não" sem saber o que era oferecido. E adivinhar a cor da grama é tão fácil quanto ganhar um prêmio bom.

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