Supersubfaturado

Wednesday, April 27, 2005

O desencanto e o resto das nossas vidas

Douglas Coupland, no Brasil, é mais conhecido por um termo do que pelo livro que originou o termo: Geração X. O livro nunca saiu aqui _há edições em Portugal e populares em espanhol_ e as edições com a assinatura de Coupland publicadas no Brasil são semi-desconhecidas. Pesquei no título de uma delas o título deste post, "Primeiro o Amor, Depois o Desencanto e o Resto de Nossas Vidas". São contos compilados crus e simples, sempre na primeira pessoa. O texto que dá origem ao título português (em inglês é "Life After God", outro conto, desta vez inspirado em Michael Stipe) é áspero e talvez você nem concorde com o que ele diga, pois desenha um trágico panorama para os que ainda aspiram o amor. A mãe do personagem central diz que ele, o amor, não sobrevive à primeira aberração, aquela que separa a empolgação inicial dos perdidos _dar um perdido é o sentido natural daqueles que vivem no nosso tempo. Para a mãe, depois do desencanto vem o resto da vida, e a partir daí nada mais sobrevive, com o amor substituído pelo respeito, mas um respeito nada nobre, quase um aceno cordial de bom dia. E relações não sobrevivem a desencantos, mire numa porção deles para achar que nada mais há para querer confrontá-los. Um amor não sobrevive a um desencanto, mas a vida vive de uma porção deles.

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Sunday, April 24, 2005

É o Juízo Final

Parece que a promessa de Nelson Cavaquinho não estava errada, e o sol deu de brilhar mais uma vez neste domingo, reforçando que existe uma linha tênue entre alegria e tristeza. “A luz há de chegar aos corações”, diz o velho antes de emendar que é só o juízo final e que antes dele toda a esperança é válida, porque “do mal será queimada a semente”. Enquanto isso o cavaquinho chora, e você vai junto. “O amor será eterno novamente”, canta, como se nunca tivesse sido. E você espera ter os olhos que o Nelson teve para ver a maldade desaparecer no final.

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Quero a Polly

Eu folheei o encarte de um CD e encontrei o rosto de PJ ainda jovem, um ou dois discos lançados. Os cabelos estavam presos, e o rosto era de segundanista quase bicho-grilo. Ela é bicho, mas não assim, desse tipo. Eu mal sabia àquela época qual era a dela, só descobri alguns anos depois, a foto molhada de divulgação de Rid of Me. A atormentação rasgada de guitarras ganhou espaço, queria que todas as mulheres soassem como ela, a Polly.
E eu desdenhei do álbum com o John Parish, que alguém disse que só servia de porta-copos ou para impressionar amigos na mesa da sala. E quase ignorei o seguinte, que agora me foge o nome. E mais uma vez caí de amores por ela, com aquele penteado e olhar para trás de Stories from the City, Stories from the Sea (perdoe se for o contrário). Lembro de comprar o single de A Place Called Home pela foto de Polly encolhida e molhada em uma banheira. E quis tê-la quando a vi pela primeira vez ao vivo, de conjunto de vinil e Telecaster, Reading, quatro anos atrás.
E ontem me peguei apaixonado pela mulher de cabelos amarrados, meio pronta, meio durona, mulher só para machos de verdade mesmo, como o Nick Cave. Eu me peguei apaixonado por Shame, que não paro de ouvir, e por outra, curtinha, cujo nome esqueço agora. As polaroids, os auto-retratos digitais, o encarte de “Uh-Huh-Her”. Eu quero um espelho. Eu quero uma máquina. Eu quero a Polly.

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Saturday, April 16, 2005

O samba é o nosso rock

Talvez uma parte dos que lêem hoje este blog nem estivesse nascida em 1985, quando a Bizz surgiu. Por dez anos, ela foi a referência para quem lia sobre/ouvia música. E todos tinham opinião, se esse ou aquele crítico tinha ou não razão em detonar tal banda. Isso acabou bem antes de a Bizz parar de ir às bancas, em 2001. Cinco antes de o fim ser anunciado, o texto bom e elegante deu lugar à comédia machista. E quando o filme já estava queimado, um elitismo de botequim se apossou dos redatores.
Bom, você pode enumerar uma porção de razões para justificar o fim da revista. Nem quero entrar nesse detalhe. Prefiro escolher outro ponto: o da razão de o Brasil jamais ter tido uma publicação de música pop que sucedesse uma outra. A Bizz já foi um segundo caso – o primeiro era a revista Pop, que atravessou os 70 e nos deixou na mão anos antes de o Rock In Rio convencer a Abril de que a música era bom negócio. Duas experiências até poderiam ser esfregadas, mas a General não passou do biênio 93/95 e a Rock Brigade, segmentada até a medula, não conta.
Aí me vem à cabeça uma conversa que tive um domingo de madrugada com o Rodrigo, irmão de uma amiga aqui do bairro. Ele me perguntava como eram as rádios na Inglaterra. Expliquei mais ou menos as opções do dial, a classificação das músicas por listas de execução e as rádios que tocam rock ou pop ou só coisas legais (dane-se essa classificação). Deixa para o Rodrigo: “Mas lá não tem essa b... de Transcontinental!”
É, Rodrigo, olha o engano. É difícil pensar, mas o samba deles é o rock. E vira meio que uma atitude colonizada exigir que a Transcontinental tocasse um ritmo só por capricho nosso. E as revistas de música, bem, elas pensam como o Rodrigo...
Em 16 anos, jamais um artista de samba (bem, talvez o Paulinho da Viola, vai) deu as caras na Bizz. A atitude talvez fosse até justificável quando o RPM tomou de assalto as paradas em 1986. Nossas meninas pagavam por esses produtos, banda e revista. Daí, a febre passou e a house tornou-se a onda do momento por dois anos. Sumiu, veio o rock outra vez, com Guns n´Roses, Faith no More e, pouco tempo depois, o Nirvana. Quando Kurt Cobain se foi, só sobrou o pagode mauricinho das FMs e o resto da moçada, alguns anos nas costas e contas para pagar, preferiu deixar a música de lado. O ritmo da hora era o samba e o axé, e ninguém deu bola para quem consumia. O mercado foi se reduzindo, as capas da Bizz repetiam Titãs e a já finada Legião Urbana em 1997, as mesmas bandas que apareciam ali 10 anos antes. Quem crescia não via estímulo em consumir o que via nas bancas, e a revista apequenou-se.
Não defendo que as revistas de música adotem a última moda como salvação. Mas acostumar um ouvinte do Dudu Nobre, um exemplo de sambista de qualidade e popular ao mesmo tempo, com textos bons sobre a música mundial seria o primeiro passo para consolidar uma publicação musical no país. O samba é o nosso rock, e não é pecado algum gostar das duas coisas. Quem se importa com os puristas?

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Wednesday, April 06, 2005

Cansei

Pois é, eu vivo para o trabalho mas ele não quer que eu o faça. Daí vivo escondido, vejo minha garrafa d'água sumir da mesa e evaporar num lixo qualquer por aí. O tempo eu perco de casa mesmo, pois dali ninguém vai pedir que eu suma ou deixe escapar uma folga relâmpago para andar pelas ruas do centro procurando nada. Aqui eu tô procurando nada, antes de tudo.
E isso me cansa, sim. Como cansa pedir atenção e não ter tempo para aturar rejeição. Fatigado, enjoado, enojado, tudo numa pessoa só. Daqui a pouco eu me atiro desses andares daqui de cima porque em breve ninguém vai notar mesmo. Eu sou quase um fantasma, me tratam como um. Na verdade, talvez eu seja um mas ainda não percebi.
O tempo não é iluminado, não, Oswald. Quando dá de ele correr contra você, não há quem o segure. Eu não o seguro mais, e nem mais seguro estou de pensar se gosto dele ou não. Talvez não. Tudo talvez, nada certo. Ou tudo certo, eu é que estou errado.
Mas só acho, tô meio perdido, confuso nessas trocas, pois cansei de trocar. E agora eles e elas é que me trocam, e nem sei qual reação empregar, se há reação, se dá para entender alguma coisa.
Eu não entendo mais nada, e como garantia antes até preferia me esconder, mas agora eu tenho nojo disso. Não quero que me escondam nem mais me perder por entre corredores salvando a pele e alguém, mais entidade que pessoa, de multa – que eu já paguei por nem sei o que na alma.

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