Supersubfaturado

Monday, January 31, 2005

Um pouco de brilho, please

Homens são nada práticos, vivem de fórmulas. Eles pedem um gosto que nem sabem bem qual é de volta e dizem não a qualquer lampejo de futuro. Os homens, mulheres, não perguntam por não saber o que perguntar, mas por temer a resposta. A vida é cheia de casos assim.
E todo mundo é um pouco o Jim Carrey vestido como criança para não perder a Kate Winslet de vista enquanto as lembranças se apagam. É meio dependente de um único amor, o mais forte de todos ou o que te derrubar primeiro. Querem refúgio como quem prefere fugir primeiro.
O duro é quando não há mais lugar onde se esconder. Daí aparece o passado, e o passado é tão vazio quando não se há companhia. Olhe lá as obras de dois grandes caras, EC e RC. Ao fim do interminável “Como Dois e Dois São Cinco” (sugestão: só leia se for muito fã dos dois ou do autor, é uma análise acadêmica da obra, nada a ver com suas histórias), a conclusão é de que a tristeza venceu, uma história terminou. Os dois não são mais os parceiros de antes (lá estão em seus discos músicas que não emprestam o nome do irmão-camarada) nem têm mais as parceiras de sempre. Eles procuram fugir, mas não há esconderijo.
EC é o grande homem que o tempo venceu. Aqui no Brasil, desde os anos 60, pouco ou nada é desbancado. Não há rupturas (a última, e menor, foi a do rock dos 80 que sepultou Erasmo), e as releituras só ouvem os esquecidos pelo rádio que não eram vaiados pela mídia.
Erasmo fez jogo duplo. Passeou pelos 70 como quem grita sem precisar gritar. Ele era contra, mas tudo bem, ficava só nisso. Bandeira verde. Eu era criança quando virou star, colado em Rita Lee, que amava também – era o rock que eu, 5, podia escutar. Pega na mentira, dá um close só. Era moda dizer isso em casa, ao ouvir uma ou outra de minha irmã, 9. O Erasmo só falava da Narinha. Era ela para cá, ela para lá... O Daniel Azulay perguntava algo, e ele a falar da Narinha. E eu lá, criança: putz, ele gosta mesmo dessa mulher. Daí a Narinha se foi, primeiro com um tiro, depois com a separação e então o veneno fatal. O EC que vendeu 300 mil nem passava do quinto milhar, e o seu refúgio “brilho eterno” não existia mais. Ele ainda é uma criança, só com um buraco no meio.
E o Roberto? Era ritual no Natal abrir o disco da minha irmã, 15, miss Morita, e pôr na vitrola portátil Philips para tocar em 33 RPM e 78 RPM, só para ouvir o RC cantar igual pato feio. Todo ano eu queria decorar aquelas músicas para cantar no chuveiro ou imitá-lo com um cabo de vassoura no quintal. Mas o RC era muito para mim, só queria ser igual o Daniel Azulay. Dezenove anos depois, eu o vi pela 1ª vez, chorando pela saúde de Maria Rita numa missa em Aparecida. Sem ela, dali a algumas semanas, pouco ou nada fez – regravou, tornou-se acústico, ao vivo. Deu tristeza ver apenas discos velhos a um dia do Natal em Salvador.
E estou aqui a decidir se me agarro no passado ou vivo só mais um dia de cada vez, seguindo rumo AA sem participar de reuniões. Ou só ponho mais um disco na vitrola que conservo em meu quarto e me conformo em dizer que “tudo vai mal” e “tudo mudou, e não me iludo, contudo”.

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Wednesday, January 12, 2005

Eu quero é samba no pé

Andei distante deste espaço pela ausência de um fio – suficiente para o passado mas não para essas mudanças repentinas e, ao mesmo tempo, planejadas destes dias – e por uma preguiça e outra virose contraídas durante a visita nos Estados de nosso norte e nordeste. Tô de volta.
O telefone não toca mais, mas eu não ligo. Preciso reorganizar da mesma maneira que coloquei os velhos livros empoeirados numa caixa com tampa, difícil de abrir. Não quero abri-los mais, não.
Mas eu quero um samba. E ter calos nos pés. E sentir minha bota pulsar enquanto sou feliz. Tô aceitando um convite: pinga e mulata, dedo para cima. Onde é que é a festa neste fim, hein?
PS: tem um sisteminha de comments novo aí, dá para comentar sem ser do blogger.com, viu?

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