Supersubfaturado

Wednesday, February 08, 2006

Conversa de bar

Tony Parsons e Lester Bangs, dois jornalistas musicais que cobriram o rock nos anos 70, estão nas livrarias brasileiras com edições que reúnem suas crônicas e entrevistas. Em comum, a paixão pelo rock e o interesse em querer ser tão forte quanto os artistas que cobriram.
Parsons sofria de um problema grave. Quis imprimir no texto o orgulho de ser quem ele foi, e que o fã de rock, na fome de consumir algo próximo de seus ídolos, quisesse ser. Autor de dois livros publicados no Brasil, "Pai e Filho" e "Marido e Mulher", o autor/jornalista é daqueles que a editora (a Sextante), embalada pelo sucesso de Nick Hornby, tenta vender como quem ele não é nem tenta ser. Na ficção, imprime um texto sem graça _nada a ver com Mark Barrowcliffe, o engraçadíssimo autor de "A Namorada nº 44 de Harry Chess" e de "A Infidelidade de Stewart Dagman". Ao reunir suas crônicas em livro, ele nada mais é do que um Diogo Mainardi de primeiro mundo, desfiando preconceito nas linhas tortas dos jornalões britânicos.
As (boas) entrevistas salvam Parsons. A melhor de todas _e que valeria o livro, se pudesse comprá-lo por capítulos_ é a com Bruce Springsteen. Nesse trabalho, o momento do "chefe" é contextualizado como uma aula de jornalismo dada por ingleses. Lá, em um texto pontuado por citações em êxtase de músicas, convive a tensão pré "Born To Run", a briga com o empresário e a redenção em um show _o autor larga o bloco para acompanhar a estupenda "E Street Band".
É nesse ponto que a trajetória de Parsons sente uma ligeira aproximação com a de Bangs. Não há comparação entre o competente repórter do NME e uma lenda do jornalismo norte-americano. Bangs vai além da competência, ao analisar fenômenos e não só consolar-se com suas impressões em resenhas. Quando entrevista Lou Reed, ele faz com que você compartilhe suas sensações ao entrevistar alguém mutuamente admirado, por leitor e repórter. Lester e fãs confundem-se, e ele zomba de Reed, como um fã faria, de uma maneira a não querer alimentá-lo, músico e ego.
Ler Bangs é como sentar em um bar com um amigo e pedir que conte tudo o que sabe. O espaço entre um capítulo e outro é o mesmo da cerveja que você pede e paga para que o tempo demore a passar e a conversa continue _e Parsons você torce para ir embora antes que ele fique chato.

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