Supersubfaturado

Monday, October 03, 2005

A metáfora do burro

Gatos que nasceram pobres, palhaços que não são palhaços mas são, trupe de saltimbancos pelas ruas do Rio _não são as que cercam a praia, mas a avenida Brasil _triste, longa e suja_ também.
Tudo isso e o Didi, em um papel belíssimo. Lá estava ele como em Donga, o Vagabundo, o tratado obra-prima de 1969. "Os Saltimbancos Trapalhões" entorta a minha língua e o desdém (primeiro por ser um musical; segundo por ser um musical do Chico) em pouco mais de 90 minutos.
Tudo é fino. O Didi como o tímido que ama platônicamente. O Dedé perfeito no papel de escada. Zacharias e Mussum, coadjuvantes, dão a graça pastelão deixada de lado pelo Didi dramático.
E a Lucinha Lins, que, linda, é a filha do pilantra dono de circo que acredita na trupe de palhaços. Olha aí, uma mulher daquelas que acreditam, as mulheres mais perfeitas são essas assim. Bom.
Tá, desconsidere os tropeços como o de filmar cenas sem nexo em Hollywood (a edição em DVD nas bancas tem o Renato Aragão dizendo que aquilo foi para reforçar o caráter superprodução da obra. Ok, mas não precisava). E arranhões como o desenrolar da trama do meio até o quase final, muito parecido com o de outras superproduções trapalheônicas.
Mas nada encobre o pulo do Didi quando cruza o olhar com o de Lucinha Lins pela primeira vez. Ele se atira nos degraus do picadeiro e sobe atrapalhado tentando se esconder dessa confissão. E do medo que o faz subir em um dos pilares, mudo, como um palhaço que faz chorar.
E faz, no final, quando Lucinha destrói seus sonhos ao chamá-lo para apadrinhar seu casamento. As lágrimas do burro são nossas, dos homens, talvez nossa mais perfeita metáfora.

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