Supersubfaturado

Monday, May 09, 2005

Deixe o Jarvis falar

Jarvis Cocker não é Jesus, embora tenha as mesmas iniciais. Ele é o cara, como diria o baixinho. Sabe dos milagres que nunca fará, mas talvez nem se lembre que, aos 20 e poucos anos, ainda era um garoto tentando impressionar as moças. Pedindo milagres, como a gente quer.
“Eu até pensei que não tenho milagres para lhe mostrar. E até gostaria de transformar a água em vinho, mas é impossível. Apenas tenho que secar a louça”, diz, desfazendo a pretensão. Sabe, nem na louça toco, o café não faço, eu só apanho o saquinho de mate verde e acrescento ao copo para que a água tome algum gosto. Mas não gosto, falta açúcar.
Os milagres de Jarvis são tão pequenos como ver a água tomar cor ao ser misturada com o sachê. Mover os pés é um milagre. Uma decisão também. Diante da falta de poderes, pede para ler um livro se o sono faltar. E acende um fósforo para que você não se perca na escuridão.
- Sou apenas um homem que faz o que pode para lhe ajudar.
E prega que não está mais preocupado em tocar as estrelas – “elas são do céu, nós estamos na Terra agora” –, quer o simples, a boa palavra, como um novelo desenrolado fio por fio, sem tentar desenrolá-lo antes do tempo certo. “Não está feliz por estar vivo agora? Qualquer coisa é possível”, diz sem se importar se a vida é ingrata ou não. “Não há cruz para carregar nesta noite. Pelo menos nesta noite.” Pois é, pelo menos. Mas há algumas louças, a sujeira amontoada e outros milagres para inventar antes que o sol nasça e eu pegue o primeiro trem da terça. Ainda bem que existe o Jarvis para explicar que milagres não existem.

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