Supersubfaturado

Saturday, April 16, 2005

O samba é o nosso rock

Talvez uma parte dos que lêem hoje este blog nem estivesse nascida em 1985, quando a Bizz surgiu. Por dez anos, ela foi a referência para quem lia sobre/ouvia música. E todos tinham opinião, se esse ou aquele crítico tinha ou não razão em detonar tal banda. Isso acabou bem antes de a Bizz parar de ir às bancas, em 2001. Cinco antes de o fim ser anunciado, o texto bom e elegante deu lugar à comédia machista. E quando o filme já estava queimado, um elitismo de botequim se apossou dos redatores.
Bom, você pode enumerar uma porção de razões para justificar o fim da revista. Nem quero entrar nesse detalhe. Prefiro escolher outro ponto: o da razão de o Brasil jamais ter tido uma publicação de música pop que sucedesse uma outra. A Bizz já foi um segundo caso – o primeiro era a revista Pop, que atravessou os 70 e nos deixou na mão anos antes de o Rock In Rio convencer a Abril de que a música era bom negócio. Duas experiências até poderiam ser esfregadas, mas a General não passou do biênio 93/95 e a Rock Brigade, segmentada até a medula, não conta.
Aí me vem à cabeça uma conversa que tive um domingo de madrugada com o Rodrigo, irmão de uma amiga aqui do bairro. Ele me perguntava como eram as rádios na Inglaterra. Expliquei mais ou menos as opções do dial, a classificação das músicas por listas de execução e as rádios que tocam rock ou pop ou só coisas legais (dane-se essa classificação). Deixa para o Rodrigo: “Mas lá não tem essa b... de Transcontinental!”
É, Rodrigo, olha o engano. É difícil pensar, mas o samba deles é o rock. E vira meio que uma atitude colonizada exigir que a Transcontinental tocasse um ritmo só por capricho nosso. E as revistas de música, bem, elas pensam como o Rodrigo...
Em 16 anos, jamais um artista de samba (bem, talvez o Paulinho da Viola, vai) deu as caras na Bizz. A atitude talvez fosse até justificável quando o RPM tomou de assalto as paradas em 1986. Nossas meninas pagavam por esses produtos, banda e revista. Daí, a febre passou e a house tornou-se a onda do momento por dois anos. Sumiu, veio o rock outra vez, com Guns n´Roses, Faith no More e, pouco tempo depois, o Nirvana. Quando Kurt Cobain se foi, só sobrou o pagode mauricinho das FMs e o resto da moçada, alguns anos nas costas e contas para pagar, preferiu deixar a música de lado. O ritmo da hora era o samba e o axé, e ninguém deu bola para quem consumia. O mercado foi se reduzindo, as capas da Bizz repetiam Titãs e a já finada Legião Urbana em 1997, as mesmas bandas que apareciam ali 10 anos antes. Quem crescia não via estímulo em consumir o que via nas bancas, e a revista apequenou-se.
Não defendo que as revistas de música adotem a última moda como salvação. Mas acostumar um ouvinte do Dudu Nobre, um exemplo de sambista de qualidade e popular ao mesmo tempo, com textos bons sobre a música mundial seria o primeiro passo para consolidar uma publicação musical no país. O samba é o nosso rock, e não é pecado algum gostar das duas coisas. Quem se importa com os puristas?

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