Supersubfaturado

Monday, March 14, 2005

(Não) é o que (não) pode ser

"Your kiss so sweet
Your sweat so sour
Sometimes I'm thinking that I love you
But I know it's only lust"
Gang of Four, em Damaged Gods


"O teu beijo é tão doce/o teu suor é tão salgado/às vezes acho que te amo/às vezes acho que é só sexo"
Titãs, em Corações e Mentes


"Trata-se de um plágio"
Titãs, sobre a "semelhança", em entrevista à Bizz (novembro de 1991)

Há um erro histórico por aí.
Como, por que raios deram de achar que o Titãs é só uma banda pretensiosa e chata, quando dois dos grandes discos do rock nos anos 80 foram produzidos pelos caras? Mais: quando eles são a grande banda pós-80 deste país?
Pois é, eles fizeram música para a massa copiando o que de mais moderno existia fora deste Brasil-sil-sil. Parte de uma linhagem de músicos e poetas que seguiam o que de mais criativo a cena paulistana-brasileira produzia àquele começo de década de 80.
É de 82, dois anos antes de os oito gravarem seu debut, o disco com Aguillar e a Banda Performática. Lá estão composições de Miklos e Arnaldo, tocadas por Lanny Gordin _meu interesse por ele surgiu ao ouvir "A Todo Vapor", de Gal, neste começo de 05.
Entende? Nos anos 80 eles eram endeusados por produzirem "música inteligente"; nos 90, foram crucificados pelos defensores da linhagem burra de música brasileira que produziu Raimundos, Little Quail & the Mad Birds e uma porrada de outras bobagens.
Neste inferno de redescobrimentos oitentistas destes anos 00, ainda não há lugar para os Titãs. Note: mesmo com o punk funk dominando as paradas indies planetárias nos dois últimos anos. Ouça "O Que", de Cabeça Dinossauro (1986), todo o Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas (1987) ou Õ Blesq Blom (89). São discos de referências cabeçóides, sim, mas perfeitamente sintonizados com o que melhor a música dos anos 80 produzia. Lá estão teclados, world music, letras sociais para pensar ou não pensar (sem mensagens messiânicas, como o rival que sobrou, o Legião) e rock, sim. Muito rock. Porque eles revertiam o padrão dos que exigem hoje só guitarras pesadas para comprovar que é moderno e redentor e transgressor o que sai das guitarras. Lá o rock existe mas sem essas necessidades. Inovar era rock, ok?
Eu lembro que o cabelo raspado pelos lados do Arnaldo Antunes era referência do que de moderno existia para mim no mundo. E isso completamente isolado numa Itaquera sem TV a cabo nem revistas estrangeiras (eu nem mesmo sabia ler em inglês). Ao saber que Corações e Mentes era um plágio de Damaged Gods, ri mas também quis saber quem era o Gang of Four da original. E era música de massa, com referências de primeiro mundo agora.
Hoje, quais são as influências mesmo? Onde reside toda essa raiva e até quando vai durar esse limbo que confina caras tão talentosos? Eles tocavam no Chacrinha, no Perdidos na Noite, no Bolinha, no Barros de Alencar, no programa do Tadeu Jungle... Eles não se escondiam, só queriam o showbizz.

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