Supersubfaturado

Monday, August 07, 2006

É o fim

Bom, cansei deste blog. Quem quiser que procure o outro: meiosdias.blogspot.com

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Sunday, June 11, 2006

Dry your eyes

É raro ter a noção de qual é a hora de recomeçar. Eu aqui, solitário num apartamento de um quarto, metido num reduto gay sem ser um deles, louco por uma vida que não é a minha, penso, penso, e nada me acomete sobre o que ou não fazer. Tudo parece carecer de moldura, parece a vida solta por aí como um bexiga de gás, daquelas de soltar os dedos e voar sem limites no céu.
Poderia descer para um cachorro-quente ou carregar uma mulher de vida fácil para o quarto, a me dizer que é difícil, sim, não ter ninguém colado dia e noite, nos ouvidos ou nos abraços, que essa solidão que me agita e agonia é parte de quem não tem por quem roubar o travesseiro.
Por essa, eu poderia atravessar oceanos ou avenidas radiais, ramais de metrô, caminhar quadras com flores em buquê só para dizer um 'eu te adoro' que na verdade significa 'eu te amo' nas palavras daquele que não tem perdão por não saber declarar exatamente o que sente. Rasgar o mundo em busca dessa parte perdida em forma de coração, dessa parte que não existe aqui.
Mas a vida não se faz de declarações, de caminhadas perdidas. Não quero as decisões contra mim que tomo a cada dia, que deixo tomar mais conta da minha vida do que eu na verdade queria.
Eu torço o lenço que derramo lágrimas e não consigo agir nem pensar algo mais profundo do que tomar comprimidos e cair num sono que não terá fim. Vou dividir esse vazio com coisas que não irei recuperar. Gente que não posso culpar. Esta vida aqui é minha, eu tomo conta e parte dela. Poderia ressurgir do nada e de repente ter a noção de que ela vale alguma coisa, sim. Mas vale?

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Friday, June 09, 2006

Talvez não seja segredo para quem acompanha estas linhas _ou deixou de acompanhá-las, já que não apareço nem dou satisfações há uns dois meses_, mas, de uma semana para cá, minha vida é mais só do que costuma ser. Eu durmo mais, canso menos, atravesso a cidade uma vez ou outra, encosto a cabeça em um travesseiro e leio, quase rezo.
A solidão pura, seca só experimentei em viagens, quando um quarto era meu e aquele era o meu pedaço de mundo onde ninguém nada poderia me perguntar. Lá, eu poderia ajustar minhas inseguranças e talvez dizer para deus (em caixa baixa mesmo) que estava tudo bem, estava contente em agradar apenas a mim, em ser um egoísta que não está em busca da felicidade _dane-se a felicidade ou qualquer coisa que se aproxime dela.
Mas agora este é todo o meu tempo. Posso, sim, estar preocupado com outras coisas porque decidi não dividir mais meu tempo e preocupações com outros. Sim, eu fiz minhas trouxas e levei para um lugar indefinido, onde sou só segredos e que ninguém me pergunte quais são eles. Eu indefini minha vida num quarto de apartamento, dormindo mais do que eu passo, passando pelo supermercado menos vezes do que preciso, faltando à terapia, arrancando ninguém do sono e sem importância para que alguém me arranque da cama ao meio dia, de 12 horas arrastadas sob um edredon, gastas com o nada. Eu estou perdendo metade do que teria para viver, assim, não vivendo, morrendo sem sonhos numa cama.
Eu não queria deixar minha vida assim sendo gasta à toa. Ora, às favas com a Copa simulada no videogame, na música que só eu vou ouvir quando sair do aparelho de som. Só queria alguém que entendesse o que eu sinto quando escuto "August & September", algo tão indefinível como é impreciso definir aqui o que é esta solidão.

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Monday, March 20, 2006

Time de uma banda só

Ainda não entendi. O show de quarta passada, no estacionamento do Credicard Hall, foi daqueles que você rezou para estar. E lá esteve, por 90 minutos, debaixo de uma chuva divina _e como foram divinos aqueles minutos! Mas a reação _prensa passada, texto publicado, comentários pulando os ouvidos_ foi a de que eles estavam lá mas aqueles 14 mil não estavam nem aí.
Tá, vamos combinar? O Oasis, banda sobre a qual este texto fala, sempre foi mais odiado que amado, assim, tipo o Corinthians. Mas quem gosta ama de verdade. Hinos de "Morning Glory" saiam da garganta de qualquer um; "Songbird", do recente Heathen Chemistry", saía da de uns; enquanto os outros esperavam por "Wonderwall". Sabe que entre esses outros, esses 70% vá lá, tem gente que escreve em jornal, que texto sai na internet, que a opinião voa como o que está escrito na Bíblia. E pouco se fala que eles são competentes, que a banda é ótima, que Liam segue impecável, que Noel segue econômico, jogando para o público, mais banda que o resto da banda.
Faltou dizer que o disco todo, "Don't Belive the Truth", funciona tão bem para um estádio como "Morning Glory". Que Gem e Andy Bell estão mais à vontade do que jamais estiveram. E faltou dizer, sobretudo, que São Paulo não é Londres, como a maioria queria que fosse; e se São Paulo não é Londres, não cola esse "relato" da frieza de público e banda. Porque ao Oasis, meu caro, cabe a comparação lá de cima: é como o Corinthians. Ele não joga para a torcida, a torcida joga para ele _e a torcida do Oasis está em Londres, e a do Timão, aqui. Isso, só quem é corintiano ou fã do Oasis pode entender.

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Thursday, March 16, 2006

Damaged Goods

Músicas são abertas a todas as interpretações possíveis _alguém um dia já escreveu isso. Pois posto aqui a minha sobre "Damaged Goods", a melhor e mais definível razão de o Gang of Four ter existido algum dia. Chuto a indecisão como o motivo de Andy Gill ter escrito uma canção que pouco fala além dos "beijos doces, suores amargos". Mas ela muito fala, meu bem, tudo fala.
Porque entre o beijo doce e o suor amargo, cabe a indecisão do que ele realmente sente sobre quem ele está falando. As opiniões que ele muda a todo tempo, o tempo todo, soando às vezes amor, às vezes tesão. Ele não sabe _e que bom que existam obras sobre o não-saber.
Ele vê frieza nos casais do dia e nos da noite. Será que era o sol que os aquecia e os fazia brilhar ao meio-dia, e a noite os escondia sob uma mesa de restaurante, prato esfriando na mesa?
Quem sabe o que é o amor? É um vazio travestido de mordida no estômago? Ou é algo que se levanta ao menor toque, ao abraço apertado num horário "x" da noite? Ao sentimento não cabe regras e ele pode estar no beijo ou no suor que se levanta do corpo, braço dado, corpo estendido, abraço apertado e milhões de outros lugares-comuns para citar o afeto entre iguais ou opostos.
E Andy Gill sabe e ensina que é melhor não defini-lo. Eu caso com essa opção, ao não pensar em se um dia poderia fazê-lo tomar forma e transformar o amor em só um brinquedo com manual.

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Wednesday, February 08, 2006

Conversa de bar

Tony Parsons e Lester Bangs, dois jornalistas musicais que cobriram o rock nos anos 70, estão nas livrarias brasileiras com edições que reúnem suas crônicas e entrevistas. Em comum, a paixão pelo rock e o interesse em querer ser tão forte quanto os artistas que cobriram.
Parsons sofria de um problema grave. Quis imprimir no texto o orgulho de ser quem ele foi, e que o fã de rock, na fome de consumir algo próximo de seus ídolos, quisesse ser. Autor de dois livros publicados no Brasil, "Pai e Filho" e "Marido e Mulher", o autor/jornalista é daqueles que a editora (a Sextante), embalada pelo sucesso de Nick Hornby, tenta vender como quem ele não é nem tenta ser. Na ficção, imprime um texto sem graça _nada a ver com Mark Barrowcliffe, o engraçadíssimo autor de "A Namorada nº 44 de Harry Chess" e de "A Infidelidade de Stewart Dagman". Ao reunir suas crônicas em livro, ele nada mais é do que um Diogo Mainardi de primeiro mundo, desfiando preconceito nas linhas tortas dos jornalões britânicos.
As (boas) entrevistas salvam Parsons. A melhor de todas _e que valeria o livro, se pudesse comprá-lo por capítulos_ é a com Bruce Springsteen. Nesse trabalho, o momento do "chefe" é contextualizado como uma aula de jornalismo dada por ingleses. Lá, em um texto pontuado por citações em êxtase de músicas, convive a tensão pré "Born To Run", a briga com o empresário e a redenção em um show _o autor larga o bloco para acompanhar a estupenda "E Street Band".
É nesse ponto que a trajetória de Parsons sente uma ligeira aproximação com a de Bangs. Não há comparação entre o competente repórter do NME e uma lenda do jornalismo norte-americano. Bangs vai além da competência, ao analisar fenômenos e não só consolar-se com suas impressões em resenhas. Quando entrevista Lou Reed, ele faz com que você compartilhe suas sensações ao entrevistar alguém mutuamente admirado, por leitor e repórter. Lester e fãs confundem-se, e ele zomba de Reed, como um fã faria, de uma maneira a não querer alimentá-lo, músico e ego.
Ler Bangs é como sentar em um bar com um amigo e pedir que conte tudo o que sabe. O espaço entre um capítulo e outro é o mesmo da cerveja que você pede e paga para que o tempo demore a passar e a conversa continue _e Parsons você torce para ir embora antes que ele fique chato.

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Thursday, December 29, 2005

O contador de histórias

"Falar de música é como falar de sexo: melhor praticá-los." Quem diz isso é Bruce Springsteen, o homem que, pela música, fala de sexo. E, nos 110 minutos do DVD da série "Storyteller", Bruce fala de música mesmo sabendo que aquilo é uma idiotice.
A cada intervenção, reconhece que não era o que pensava ao escrever a canção; era o que sentia. Mas, àquele instante, pouco importava. Falar e sentir eram a mesma coisa. E melhor, àquele instante, era reconhecer que o fraseado de guitarra, o piano e a gaita eram parte das letras.
E assim passam-se grandes momentos, quando assume que músicas como "Nebraska" e "Jesus Was a Only Son" não são bem sobre o que sentia, enquanto "Blinded by the Light" e "Thunder Road" eram, sim. Bruce comporta-se como o grande amigo que você jamais conheceu: parece saber tudo, ter assunto para tudo, rir de todas as suas bobagens (como em uma passagem de "Thunder Road", que ele reconhece uma das estrofes como "das mais idiotas que escreveu").
Ele responde às perguntas e foge dos lugares comuns, como quando é perguntado por uma nipo-americana sobre como é ser supernotada e, ao mesmo tempo, ser invisível aos olhos dos EUA _"eu cresci numa rua de negros e brancos e nela a integração acontecia a todo tempo".
Se todos os conhecem, sabendo de todas suas músicas? "Não, claro que não." Sim, porque ele vai além do contador de histórias. Bruce é o cara, é o chefe, ou como você quiser chamar.

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