Supersubfaturado

Sunday, March 20, 2005

Filosofia de estrada

"Desilusão, meu bem/quando acordou/estava sem ninguém"
Desta vez o perdão é por voltar no mesmo assunto, o que tem virado especialidade nos últimos dois anos (sempre falo das mesmas coisas, talvez isso explique um pouco a falta de freqüência nesta página). Mas não vivo das mesmas coisas, e isso já é uma outra história, outro post.
Falo do Erasmo dos quatro CDs que comprei na última quinta bizarra, se bem que bizarra é essa situação de hoje, desde quinta ou quarta, sei lá – tudo bem, falemos de uma única coisa então, o(s) CD(s) do Erasmo, que são bons e aliviam uma parte desse troço estranho que me ataca o estômago e a cabeça e não me faz dormir sem nunca pensar nisso(s).
Tudo bem, o combinado é apenas falar do(s) disco(s), vamos falar dele então. Tudo bem, vamos combinar outra coisa: vou escrever de um só, do “Amar pra viver ou morrer de amor”, de 1982, lindo de doer. O que é “Filosofia de estrada” (No baralho da vida/eu encontrei minha dama/na linguagem da estrada/a mulher que se ama/corra menos, rapaz/que é para vê-la bem mais), hein? Eu defendo homens que não são como eu, que dormem de cueca na sala (eu só durmo na sala, deixo para dormir assim quando subo no quarto), fingindo de surdo para os seus pepinos ou os de outra. Mas no fundo eles são assim que nem o Erasmo, que rasga um verso de boteco para defender a amada. E aí segue outra, “Mesmo que seja eu”, que tiro da cartola toda vez que alguém pede (aliás, alguém quer pedir?): você precisa de um homem/pra chamar de seu/mesmo que esse homem seja eu. Putz, dá para pensar, “o Erasmo é bem machista”, porque o tempo inteiro ele atazana a coitada por dormir sozinha, e deitar, e rolar, e procurar a “espada do salvador” (nem sei se ele pensou em algum duplo sentido aqui). Mas, se pode ser ele, por que contar a história da mulher que sofre de desilusão e da “fera” solidão?
Tá, sem viagens, o Erasmo é de uma geração ensanduichada pelo iê-iê-iê e o liberalismo hippie que ele tentou passear (mas, ãh, não passeou). Então vez ou outra ele soltava um tom machista (em Mulher, do disco imediatamente anterior, ele dá um dez para a mulher, “rainha do lar”), e na época isso era bom de escutar, porque ele se achava um forte, e as mulheres o achavam assim. Daí o homem achou outro perfil, “sensível”, e abriu espaço para a mala música sertaneja. Lá só vem choro, traição, choro, traição que é um tema herdado da música brega-popular dos 70. E eis que é isso mesmo: o “sensível” é herança brega-setentista; o amor de mãe bonachão, do Erasmo oitentista; o resto, bem, culpe o Bruce, pois ele sabe falar de amor sem resvalar nem em um eixo nem outro.

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