Supersubfaturado

Thursday, September 01, 2005

O cartaz-metáfora

O cartaz no muro em frente à loja de vasos _por conseqüência, do outro lado da rua_ avisou por uma semana que "a grama era sempre mais verde do outro lado". O lambe-lambe ficou lá alguns dias, enquanto saía do forno o CD que emprestava a expressão (era o single de Side, do Travis).
Há essa fixação pelo que não se conhece, pelo que aparenta ser melhor, sem nenhuma certeza. Para mim, àquela época, a grama do Brasil era mais verde que a da Inglaterra. Sentidos combinam de procurar o inédito e/ou saudoso. Mas no fundo eles são iguais.
A imaginação fez com que eu transformasse o Brasil num lugar perfeito para se viver _melhor que o gelo, o vento frio e a garoa de Londres. Contava os dias para o avião partir de Heathrow com destino à paisagem confusa de Cumbica. Meu sonho era sobrevoar o estádio do Guapira antes de cair na pista de pouso e ver minha família, menos minha mãe _de cama, em casa.
Daí se desfez a miragem. Aqui era um lugar tão bom para se viver quanto era antes, mas a experiência forçou novas impressões. A grama mais verde tornou-se cinza a cada dia. Não vi os galhos caírem porque já era primavera _e eu escapara de um outono nebuloso no continente europeu. Mas o verão teria ainda mais nuvens, era só esperar que ele chegasse dali a alguns dias.
Minhas certezas, como as suas, são confusas. É difícil tomar delas algumas conclusões. Sei que tirá-las é tarefa que confunde mais do que explica. Há a excitação por estar em outra nave, outro corpo, outro país, outro emprego, outra namorada... Mas no fim nossos gostos são ajustáveis.
Sim, porque é mais difícil perder do que trocar. É um perde-ganha como aqueles do "Domingo no Parque" _quando a criança, com um fone que impedia a audição, respondia "sim" ou "não" sem saber o que era oferecido. E adivinhar a cor da grama é tão fácil quanto ganhar um prêmio bom.

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