Supersubfaturado

Sunday, June 11, 2006

Dry your eyes

É raro ter a noção de qual é a hora de recomeçar. Eu aqui, solitário num apartamento de um quarto, metido num reduto gay sem ser um deles, louco por uma vida que não é a minha, penso, penso, e nada me acomete sobre o que ou não fazer. Tudo parece carecer de moldura, parece a vida solta por aí como um bexiga de gás, daquelas de soltar os dedos e voar sem limites no céu.
Poderia descer para um cachorro-quente ou carregar uma mulher de vida fácil para o quarto, a me dizer que é difícil, sim, não ter ninguém colado dia e noite, nos ouvidos ou nos abraços, que essa solidão que me agita e agonia é parte de quem não tem por quem roubar o travesseiro.
Por essa, eu poderia atravessar oceanos ou avenidas radiais, ramais de metrô, caminhar quadras com flores em buquê só para dizer um 'eu te adoro' que na verdade significa 'eu te amo' nas palavras daquele que não tem perdão por não saber declarar exatamente o que sente. Rasgar o mundo em busca dessa parte perdida em forma de coração, dessa parte que não existe aqui.
Mas a vida não se faz de declarações, de caminhadas perdidas. Não quero as decisões contra mim que tomo a cada dia, que deixo tomar mais conta da minha vida do que eu na verdade queria.
Eu torço o lenço que derramo lágrimas e não consigo agir nem pensar algo mais profundo do que tomar comprimidos e cair num sono que não terá fim. Vou dividir esse vazio com coisas que não irei recuperar. Gente que não posso culpar. Esta vida aqui é minha, eu tomo conta e parte dela. Poderia ressurgir do nada e de repente ter a noção de que ela vale alguma coisa, sim. Mas vale?

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Friday, June 09, 2006

Talvez não seja segredo para quem acompanha estas linhas _ou deixou de acompanhá-las, já que não apareço nem dou satisfações há uns dois meses_, mas, de uma semana para cá, minha vida é mais só do que costuma ser. Eu durmo mais, canso menos, atravesso a cidade uma vez ou outra, encosto a cabeça em um travesseiro e leio, quase rezo.
A solidão pura, seca só experimentei em viagens, quando um quarto era meu e aquele era o meu pedaço de mundo onde ninguém nada poderia me perguntar. Lá, eu poderia ajustar minhas inseguranças e talvez dizer para deus (em caixa baixa mesmo) que estava tudo bem, estava contente em agradar apenas a mim, em ser um egoísta que não está em busca da felicidade _dane-se a felicidade ou qualquer coisa que se aproxime dela.
Mas agora este é todo o meu tempo. Posso, sim, estar preocupado com outras coisas porque decidi não dividir mais meu tempo e preocupações com outros. Sim, eu fiz minhas trouxas e levei para um lugar indefinido, onde sou só segredos e que ninguém me pergunte quais são eles. Eu indefini minha vida num quarto de apartamento, dormindo mais do que eu passo, passando pelo supermercado menos vezes do que preciso, faltando à terapia, arrancando ninguém do sono e sem importância para que alguém me arranque da cama ao meio dia, de 12 horas arrastadas sob um edredon, gastas com o nada. Eu estou perdendo metade do que teria para viver, assim, não vivendo, morrendo sem sonhos numa cama.
Eu não queria deixar minha vida assim sendo gasta à toa. Ora, às favas com a Copa simulada no videogame, na música que só eu vou ouvir quando sair do aparelho de som. Só queria alguém que entendesse o que eu sinto quando escuto "August & September", algo tão indefinível como é impreciso definir aqui o que é esta solidão.

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