Supersubfaturado

Monday, June 27, 2005

A canção pop e o tempo

A canção pop não tem limite de tempo. Diz-se pop perfeito o de Phil Spector, gravado por grupos vocais femininos sob uma parede de som nos anos 60. O pop se repete: fosse lançado CD idêntico ao das Marvelletes nos anos 00 e o elogio seria repetido.
Ouvir New Order é sentir o tempo não passar. Registros de uma banda que a) inventou o termo indie, ao emplacar seguidas vezes o primeiro lugar da parada britânica com singles independentes, dando voz ao entra-e-sai de novas bandas; b) inventou a música eletrônica pop (desconsidere pois Kratwerk, cool demais para as paradas, sem a dosagem que os ouvido de rádios querem ouvir). Por fim, o New Order não muda, o tempo passa e se adequa ao passado da banda _o presente é só uma xerocópia, nada mais.
NO é o princípio ativo que mantém os mortos de pé desde 1998 (não vou entrar em detalhes, não vou ser explicítio, pesquisem). E é também o nome do novo álbum dos mancunianos. O baixo de Peter Hook soa o mesmo; a guitarra de Bernard Summer e os teclados de Stephen Morris, também. As letras seguem a mesma lógica da simplicidade feliz _domingo de sol, dominó na rua, nada mais, nada demais. Os refrãos são tão pegajosos como os de Bizarre Love Triangle, se o coração saudosista te despertar.
Lembrar o passado não é pecado nesse caso. Parafraseando Stone Roses, o passado foi deles, e o futuro é dos outros. É possível chutar que esse álbum, NO, é o melhor deles desde Brotherhood (1986), a obra-prima gêmea de Low Life (1985).
Por mais que compile singles para mostrar que o trabalho sobreviveu às catástrofes da separação (a que dividiu em vários pedaços a banda, em 1989 _revenge, electronic, the other two_, e a crise de relacionamento que desaguou no show morno de Reading em 98), os grandes singles e saltos não sobreviveram a mais que três. Em NO é diferente: estão lá boas performances vocais e o baixo de Peter Hook, que, como dito acima, ainda emociona. Se o passado pode ser repetido à exaustão por quem apenas começa, por que não deixar a missão para quem ajudou a construí-lo?
O New Order cumpre bem a tarefa. E o som do passado ajusta-se bem à vida do nosso novo (velho) século. A repetição só precisa de boas mãos para que o tempo continue bem conduzido. A história deu carta-branca para que Lou Reed, por exemplo, gravasse discos mornos mas festejados. Que festejemos o New Order, então.

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La hinchada grená

Há os que não se acostumam com o topo e cismam de sempre beliscar pelas beiradas. A felicidade da vizinhança pizzaiola da Mooca que o diga.
Num ponto é possível entender a lógica do Juventus, o clube atlético que restou no futebol paulistano (o outro, cujo gentílico da cidade o fez ficar conhecido mundialmente, aposentou-se quando o profissionalismo surgiu, na década de 30): por que ficar entre os dez mais, e não ter muito o que comemorar _qual a satisfação de um décimo lugar, hein companheiro?_, se é possível brindar a ascensão ano sim, ano não? É o caso da representação grená.
Ver o Juventus campeão é orgulho de poucos. O amigo FB e eu somos parte desses 2.500 que viram o quase impossível ontem. Antes de nós, só os que acompanharam a volta olímpica no Pq. São Jorge em 1983, campeões da Taça de Prata (como lembrou o FB, falta bordar a estrela prata acima do escudo. Cobremos), tiveram o privilégio. E a sensação de ontem foi diferente daquela do ano passado, quando acompanhei alguns jogos na Primeirona.
A princípio, a torcida se renova. Alguns empolgamos com jogos pela TV aberta, outros pelo charme de torcer pelo time que não tem títulos, mas carrega a tradição de um bairro e uma região. Os velhos do último ano, aqueles que reclamavam do "Bridá" e pegavam no pé do "dez" que mal sabiam o nome, deram lugar a um povo que repete os gritos de Boca e River com outros do Rio e enfeitam a arquibancada com os trapos de torcidas do Prata.
É molecada, mesmo. A molecada que é arrancada pela polícia ao dizer que a "zona leste dá porrada". Ou nem molecada é, como os angolanos parentes e amigos de Jhonson, o 9 que se despede rumo à Portuguesa, seu quarto clube no ano. E o Jhonson estava lá com a foice, o martelo, a estrela e o vermelho e o amarelo da bandeira do seu país em uma camiseta encoberta pelo grená e que sambou quando o papel voou com o título. 100% Angola.
O prazer de torcer está de volta. O bumbo da escola de samba do bairro encobre os gritos que irritam Maurício, o ex-corintiano que deixou passar dois gols na vitória juventina por dois a um.
O Juventus mostra o que é um jogo de futebol. É um jogo para torcer pelo que está mais próximo _seja de casa ou do coração. Abandonem a chatice, torcedores.

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Monday, June 20, 2005

Pega na mentira

Que me importa a notícia de que em Copacabana não tem argentino, se o que interessa é que o amor vai se acabar?
Tudo é uma mentira só, até o que não interessa, diz Erasmo. Então, melhor acreditar no que já irremediavelmente é lenda. Mas não concordo que o amor fique aí por muito tempo como algo impávido e colosso. Como a gente, ele vive de muletas _uma delas pode ser a sua ilusão, interpretada e usada de tal forma que se traduza em verdade. E o que é a verdade né, professor?
Amor é refúgio, todo mundo quer pensar em algo bom no nada de um dia agitado. Agarrar-se à mentira de um Dinamite não fazer mais verões que Zico e Pelé juntos num time de camisas listradas. As mesmas listras pretas presas mas que não prendem. E eu tô no Vasco, o time que aceita o até então inaceitável, que dá ao escorraçado o direito de vestir a camisa e ser gente boa, admirada.
As metáforas de Erasmo me pegam assim, numa letra boba mas que desafoga parte do que eu penso. A mentira é acreditar que o amor vai se acabar. Pois é, ele não tem fim.

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