Supersubfaturado

Friday, December 17, 2004

Lembra de quando a gente lembrava das coisas?

Em tempos de celebrar a década perdida, corremos o risco de perdemos mais 10 anos. Gente sem nem idade para ter vivido o passado agora embarca na onda saudosista. Boa música é a dos anos 80. Séries ok só as que passavam nas tardes de Sessão Aventura. Passatempo favorito é o de lembrar o que de tão bom o passado tinha que hoje não há mais.
Enfim, é um saco. Depois de revivals menos ensurdecedores – a disco revalorizada pela house, o grunge ressuscitando o hard rock setentista e mesmo os anos 80 bebendo na fonte jovemguardista ou naquelas cores berrantes do psicodelismo pré-hippie –, o monotematismo nos toma de assalto. Nem se fala de outro assunto. Testamos a BMX Pantera, então.
Abro o guia da bolha e caço o que há de mais interessante para fazer hoje. O Rádio Táxi toca Eva e Um Amor de Verão num clube qualquer. A companhia é de Evandro Mesquita e Paulo Ricardo. O mercado de livros deságua lançamentos mapeando o passado recente. Um deles é do tipo “você lembra” das bobagens que costumávamos gostar porque éramos crianças ou, com mercado fechado e a democracia recém restabelecida, nem tínhamos chance de discordar. Outro tenta provar, por a mais b, que de perdida a década nada tinha. Mas ganhamos alguma coisa?
No meio dessa década hoje pretensa e falsamente recuperada, a finada Bizz publicava um suplemento explicando que acreditávamos numa era que não era a nossa. A new wave, que incluía bobagens que deram de celebrar, era uma invenção de TVs e cadernos culturais em época de falta de assunto. Como aqui, ela não existia em mais nenhuma parte.
Calma aí, mas em outras épocas o passado era só referência, não? Alguém lembra de o Tremendão participando do Clip Clip? Ou de, de uma hora para outra, o Made In Brazil virar a referência da garotada?
A gente perdeu a infância e sabe mais do que sabíamos. Mas preferimos encobrir a vista e embaralhar lembranças com a peneirinha de embalar limão, daquelas que usávamos para acostumar o cabelo para trás. Pena que, nesse pacote, caibam os fios e os neurônios saudosistas. Em 20 anos, podemos amar o tempo em que a gente lembrava das coisas.

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